domingo, 2 de outubro de 2011

Liberdade é a coragem de ser o que somos. É preciso coragem para ser o que se é.


Palavra de Grande Inquisidor


“De tudo o que Dostoievski escreveu em Os Irmãos Karamazov o que mais me 
impressionou foi o incidente do “Grande Inquisidor”. É assim: Jesus havia voltado 
à terra e andava incógnito entre as pessoas. Todos o reconheciam e sentiam o 
seu poder, mas ninguém se atrevia a pronunciar o seu nome. Não era 
necessário. De longe o Grande Inquisidor o observa  no meio da multidão e 
ordena que ele seja preso e trazido à sua presença.. Então, diante do prisioneiro 
silencioso, ele profere a sua acusação.

         “Não há nada mais sedutor aos olhos dos homens do que a liberdade de 
consciência, mas também não há nada mais terrível. Em  lugar de pacificar a 
consciência humana, de uma vez por todas, mediante sólidos princípios, Tu lhe 
ofereceste o que há de mais estranho, de mais enigmático, de mais 
indeterminado, tudo o que ultrapassava as forças humanas: a liberdade. Agiste, 
pois, como se não amasses os homens... Em vez de Te apoderares da liberdade 
humana, Tu a multiplicaste, e assim fazendo, envenenaste com tormentos a vida 
do homem, para toda a eternidade...”
O Grande Inquisidor estava certo. Ele conhecia o coração dos homens. Os 
homens dizem amar a liberdade, mas, de posse dela, são tomados por um 
grande medo e fogem para abrigos seguros. A liberdade dá medo. Os homens 
são pássaros que amam o vôo, mas têm medo dos abismos. Por isso 
abandonam o vôo e se trancam em gaiolas.”
      

“Somos assim: sonhamos o vôo mas tememos a altura . Para voar é preciso ter 
coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o vôo 
acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o 
que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o vôo por gaiolas. As gaiolas 
são o lugar onde as certezas moram.
É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não 
são livres porque um estranho os engaiolou, que eles voariam se as portas 
estivessem abertas. A verdade é oposto. Não há carcereiros. Os homens 
preferem as gaiolas aos vôos. São eles mesmos que constroem as gaiolas em 
que se aprisionam...”

“Deus dá a nostalgia pelo voo.
As religiões constroem gaiolas”

“Os hereges são aqueles que odeiam as gaiolas e abrem as suas portas para 
que o Pássaro Encantado voe livre. Esse pecado, abrir as portas das gaiolas 
para que o Pássaro voe livre, não tem perdão. O seu destino é a fogueira. 
Palavra do Grande Inquisidor”

Rubem Alves









         

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