terça-feira, 18 de junho de 2013

Cartas de Van Gogh...poesia pura!
E na carta seguinte para Bernard:
“Eis o que quis dizer a propósito do branco e do preto. Vejamos O semeador. O quadro
está dividido em dois, uma metade é amarela, no alto, e, embaixo, ele é violeta; pois bem, a
calça branca repousa a vista e distrai no exato momento em que o contraste excessivo e
simultâneo de amarelo e violeta poderia cansar”.
“Em uma outra ordem de idéias, quando se cria um motivo em cores que exprime, por
exemplo, um céu amarelo à tarde, o branco duro e cru de um muro branco contra o céu, a
rigor representa-se, e isto é estranho, com o branco cru atenuado por um tom neutro, pois o
próprio céu, muitas vezes, o colore de um delicioso tom lilás. E ainda nesta paisagem tão
ingênua que se deveria representar uma cabana inteiramente branca de cal (inclusive o teto),
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colocada em um terreno evidentemente laranja-forte, sendo azul o céu do sul e o Mediterrâ-
neo, tornam o laranja tanto mais intenso quando mais violenta é a tonalidade do azul. A nota
negra da porta, dos vidros, da pequena cruz sobre o teto faz com que haja um contraste
simultâneo de branco e preto, tão agradável, quanto o obtido pelo azul com o laranja... Basta
que o branco e o preto sejam cores também, pois que em muitos casos eles podem ser assim
considerados, já que o seu contraste simultâneo é tão agudo quanto, por exemplo, o do
verde com o vermelho.”
“O que eu queria conhecer era o efeito de um azul mais intenso no céu. Fromentin e Jérôme
vêem o solo do sul incolor, e muita gente também o vê assim. Mas, meu Deus, se você pegar
areia enxuta na mão e a observar de perto, ela também será incolor, assim como a água e o
ar se vistos da mesma forma. Não há azul sem amarelo e sem laranja-forte, e quando se usa
o azul, usa-se também o amarelo e o laranja-escuro, não lhe parece?”
As descrições dos quadros que está pintando, das paisagens, das cenas e dos personagens que vê
atingem, às vezes, uma assombrosa riqueza de expressão:
“Havia moças em Saintes-Maries que lembravam Cimabue e Giotto: elas eram esguias, retas,
um pouco tristes e místicas. Na praia plana e arenosa, pequenas embarcações verdes, ver-
melhas, azuis, tão graciosas na sua forma e cor que nos fazem pensar em flores”.
“Muitas vezes, me parece que a noite ainda é mais rica em cores que o dia, com violetas,
azuis e verdes mais intensos. Se você prestar atenção verá que certas estrelas são cor de
limão, outras têm fulgurações rosa, verdes, azuis, miosótis... E sem ir mais além, é evidente
que para pintar um céu estrelado não é de maneira alguma suficiente colocar pontos brancos
sobre um negro azulado... Eis uma mostra de noite sem negro, só de um belo azul, violeta e
verde.”
“Quanto mais me torno feio, velho, mau, doente, pobre, mais quero me vingar usando cores
brilhantes, esplendorosas...

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